Depois da vitória no ano anterior, A Ford decidiu fazer um novo investimento, por volta de US$ 72 milhões, para projetar um Ford americano, pilotado por americanos e que traria a América o troféu de Le Mans. O mais avançado e leve chassi do mundo, o J-Car, tinha um pára-brisa mais estreito que o GT40, sendo possível reduzir a sua área frontal, tinha um estranho bico em forma de “garra de caranguejo”. Um novo bico similar ao usado no Mark II foi usado num teste em Riverside no dia 17 de agosto de 1966, mas o experimento foi catastrófico, matou o piloto de testes Ken Miles. Após este fatídico episódio um novo desenho foi feito, com um nariz mais adequado e uma cauda mais longa e curvilínea. O carro foi batizado como Ford Mark IV.
Nesse ínterim, a Ferrari preparava suas armas, um carro modelo 330P3 fabricado em 1966 serviu de banco de testes para o modelo 330P4 de 1967, esse carro foi equipado com o motor P4, os carburadores do motor foram substituídos por um novo sistema de injeção mecânica Lucas, o entre-eixos, transmissão e motor foram revisados. A fábrica assinou um contrato com a Firestone para fornecer pneus. A Ferrari acabou dominando a prova de Daytona em 1967, com três carros da marca cruzando a linha de chegada lado a lado na ponta.
O Ford Mark IV fez sua estréia em Sebring, onde foi pilotado por Mario Andretti e Bruce Mclaren, o modelo não deu chance aos seus rivais e faturou a prova. Seu próximo compromisso ia ser Le Mans. O modelo Ferrari P3/4 acidentou-se na prova Targa Florio de 1967 e foi recuperado a tempo para disputar Le Mans com os pilotos Chris Amon e Nino Vaccarella. Os outros P4 foram conduzidos por Ludovico Scarfiotti - Mike Parkes, Klass-Sutcliffe e Willy Mairesse – Beurlys. A Chaparral e a Lola também estavam na disputa em Le Mans, porém, mesmo sendo velozes, não eram tão confiáveis como os veículos Ford e Ferrari. Henry Ford II sabia que seus principais adversários seriam os carros italianos.
Na prova francesa foram inscritos diversos Ford GT40 Mark II, além de GT40 mais antigos, além dos quatro Mark IV divididos em duas equipes, a Shelby-American com as duplas Dan Gurney-A.J.Foyt e Bruce Mclaren-Mike Donohue com compostos pneumáticos Goodyear; a equipe Holman-Moody preferiu os pneus Firestone, concebido aos pilotos Mario Andretti-Mauro Bianchi e Loyd Ruby-Dennys Hulme. Cada carro tinha pelo menos um condutor americano. O Mark IV amarelo nº 2 havia feito a pole. Desde o início, o carro número 1 era sempre moderadamente veloz. Na primeira volta, os Mark II de Frank Gardner e Jo Schlesser passaram o Mark IV. Mais estranho ainda que no começo da prova Dan Gurney deixou o velho Mark II de Ronnie Bucknum liderar por uma hora. “Eu sabia que o único ponto fraco do carro era os freios” Gurney revelaria, “Então fizemos o máximo para poupar o equipamento”. Novato em Le Mans, Foyt faria uma corrida cautelosa, não cravando voltas rápidas. Pilotado por Amon-Vaccarella, a Ferrari P3/4 liderou a corrida brevemente na volta 21, mas depois despencou na classificação. No começo da noite, um dos pneus traseiros explodiu. Amon tentou substituir a roda, mas não deu certo porque a cabeça do martelo necessário para soltar o cubo saiu voando e se perdeu. Ele tentou levar a Ferrari a garagem, mas no caminho, o pneu pegou fogo e incendiou a parte lateral do carro. Devido a um travamento das pinças, o Mark IV prateado de Andretti bateu forte no S, logo no início da noite. Já o número 4, de Hulme, encalhou em um banco de areia na curva Tertre Rouge.
Por volta da meia-noite, estando em segundo lugar e a várias voltas do líder, a Ferrari de Scarfiotti-Parkes andava colada ao líder. A Ferrari começou a dar repetidos sinais de luz, como se quisesse passar. E então Gurney fez o impensável. Na lenta curva Arnage, ele colocou o carro na grama e parou. Ao invés de ultrapassar, Mike Parkes também estacionou, e esperou que Gurney continuasse. “Quando Parkes parou, a Ferrari admitiu que sua única chance de nos vencer seria nos forçar a abusar do carro, não caímos nessa”, disse Gurney. Durante a corrida o número 2 teve vários problemas, o pior deles na madrugada de domingo, quando, na reta Mulsanne, Bruce Mclaren ouviu um tremendo estampido na parte traseira quando estava a 350 km/h. “Olhei no retrovisor e vi a carenagem voando pelos ares” declararia o piloto. Mclaren parou o carro a um km e meio de onde perdeu a peça, justamente quando ele estava prestes a ultrapassar a Ferrari mais competitiva e tomar o segundo lugar na prova. Frustrado, ele tirou o capacete e jogou contra a caixa lateral de alumínio próxima a sua perna. Era o desapontamento de um dos maiores pilotos da história. Bruce retornou a reta, ele arrastou a carenagem até o carro e instalou precariamente no Ford. Segurando a peça com a mão ele foi até nos Boxes. Depois de uma soma de atrasos que totalizou duas horas, o carro tinha que recuperar o tempo perdido, mas a vitória estava descartada. As Ferraris continuaram na corrida esperando uma quebra do Ford que liderava, mas não aconteceu. O carro de Scarfiotti/Parkes terminou em segundo 52 kms atrás. Outro Ferrari P4 de Mairesse/Beurlys chegaria 80 kms mais distante. Depois de recuperar muito do tempo perdido o Ford de Bruce Mclaren e Mike Donohue terminou em quarto.
Depois de liderar sem esforço por 23 das 24 horas, o Ford Mark IV da Shelby chegou à vitória na tarde de domingo. Em seguida com Foyt ao volante e Gurney sentado no capô, o Ford foi levado para o “Circulo da Vitória”. Após anos de abandonos por quebras, Dan Gurney sabia muito bem que às 24 Horas de Le Mans demoravam exatamente 24 horas para terminar. Mesmo não abusando do equipamento, aquele Mark IV registrou um novo recorde para a prova, cobrindo 5.229 quilômetros à velocidade média de 218,01 km/h, 16 km melhor que o anterior.
A Porsche ganhou na categoria de 1600 a 2000cm³ e por índice de performance com a dupla Jo Siffert/Hans Herrmann pilotando o modelo 907/6, enquanto o Porsche 906 de Victor Elford/Bem Pon saiu-se vitorioso no Grupo S.
Foi a terceira participação do neo-zelandês Denis Hulme, que será Campeão Mundial de Fórmula 1 em 1967. Correu ainda em 1961 e 1966. Sua melhor classificação será um segundo lugar em 1966, dirigindo um Ford GT40 em dupla com Ken Miles.
Quarta e última participação do piloto inglês John Surtees, campeão da Fórmula 1 neste em 1964. John correu 4 vezes em Le Mans, sendo que a primeira foi em 1963. Sua melhor qualificação foi em 1964 com o terceiro lugar, fazendo inclusive a pole com seu Ferrari.
Também foi a quarta e última participação em Le Mans do austríaco Jochen Rindt, que será campeão da Fórmula 1, postumamente, em 1970, isto é foi campeão quando já estava morto. Correu nas edições de 1964, 1965, 1966 e 1967. Sua melhor classificação em Le Mans foi a vitória em 1965, numa Ferrari 275LM, em dupla com o americano Masten Gregory.
Classificação geral
1 P +5.0 1 Dan Gurney/A. J. Foyt - Ford GT40 Mk.IV - 388 voltas
2 P 5.0 21 Ludovico Scarfiotti/Mike Parkes - Ferrari 330 P4 - 384 voltas
3 P 5.0 24 Willy Mairesse/Jean Blaton - Ferrari 330 P4 - 377 voltas
4 P +5.0 2 Bruce McLaren/Mark Donohue - Ford GT40 Mk.IV - 359 voltas
5 P 2.0 41 Jo Siffert/Hans Herrmann - Porsche 907/6L - 358 voltas
6 P 2.0 38 Rolf Stommelen/Jochen Neerpasch - Porsche 910/6K - 351 voltas
7 S 2.0 37 Vic Elford/Ben Pon - Porsche 906K Carrera 6 - 327 voltas
8 S 2.0 66 Christian Poirot/Gerhard Koch - Porsche 906 Carrera 6 - 321 voltas
9 P 1.3 46 Henri Grandsire/José Rosinski - Alpine A210 - 321 voltas
10 P 1.3 49 André de Cortanze/Alain LeGuellec - Alpine A210 - 318 voltas
Nenhum comentário:
Postar um comentário