1951 – Começa o Domínio da Jaguar

24 Horas de Le Mans 1951
O piloto francês Pierre Levegh estreou na prova pilotando um Talbot e terminou em quarto lugar. Ao deixar o carro após a bandeirada, o francês ficou com uma idéia fixa: ganhar a edição do ano seguinte. Mas Le Mans se mostrou uma sina para este piloto que ficou para a história, não por vitórias, mas por fatos ocorridos em 1952 e 1955.
Primeira vitória da fábrica inglesa Jaguar, por meio do modelo XK-120C de 3441cc, 6 cilindros em linha, duplo comando, potencia de 205HP, peso de 1015kg e chassi tubular. Os pilotos vitoriosos foram os ingleses Peter Walker e Peter Whitehead. O vencedor é o primeiro bólido a alcançar mais de 150km de média horária, durante as 24 horas de prova, exatamente 150,466km/h.
A Porsche faz, nas 24 Horas de Le Mans, apenas três anos depois de criada, sua estréia em competições internacionais, usando um modelo 356/4 preparado especialmente, com 1086cc, 46HP, carroceria de alumínio, 635kg e velocidade de 160km/h, já com os quatro cilindros opostos e refrigerados à ar. Naqueles dias conturbados do pós-guerra, a total falta de materiais na Alemanha obrigou os inventivos engenheiros da Porsche a comprar no mercado paralelo uma sucata de aviões de guerra e deles aproveitarem o alumínio para construir a carroceria. Ferry Porsche não sabia bem o que esperar. Para ele, terminar a corrida já estava de bom tamanho. O carro fez melhor do que esperado, chega em 20º lugar na geral e vence na categoria de 751 até 1100cc. A dupla que pilotou o Porsche 356/4 foi Auguste Veuillet e Edmond Mauche, ambos franceses.
As famosas listras esportivas de competição não surgiram com as corridas do final do século 19, tampouco com a criação da Fórmula 1, em 1950. O criador da pintura esportiva em automóveis, como conhecemos hoje, foi um americano. Antes de Briggs Cunningham, os carros costumavam ser pintados apenas em uma cor, tradicionalmente representando o país do construtor. Na edição das 24 Horas de Le Mans de 1951, o piloto inscreveu seu próprio carro na prova francesa e pintou duas faixas azuis sobre a cor branca do seu carro. Virou febre. No ano seguinte, todos os carros apareceram com algum tipo de listra, seta, chamas. Isso que Cunningham chegou apenas em 18º na corrida.

Resultado Geral
1 S 5.0 20 Peter Walker/Peter Whitehead - Jaguar XK-120C - 267 voltas
2 S 5.0 9 Pierre Meyrat/Guy Mairesse - Talbot-Lago T26 GS - 258 voltas
3 S 3.0 26 Lance Macklin/Eric Thompson - Aston Martin DB2 - 257 voltas
4 S 5.0 10 Pierre Levegh/René Marchand - Talbot-Lago Monoplace Decalee - 256 voltas
5 S 3.0 25 George Abecassis/Brian Shawe-Taylor - Aston Martin DB2 - 255 voltas
6 S 5.0 19 Tony Rolt/Duncan Hamilton - Nash-Healey Sport Coupe - 255 voltas
7 S 3.0 24 Reg Parnell/David Hampshire - Aston Martin DB2 - 252 voltas
8 S 5.0 15 Luigi Chinetti/Jean Lucas - Ferrari 340 America Barchetta - 246 voltas
9 S 3.0 29 Norbert Jean Mahé/Jacques Péron - Ferrari 212 Export - 244 voltas
10 S 3.0 28 Nigel Mann/Mortimer Morris-Goodall - Aston Martin DB2 - 236 voltas

1950 – Única Vitória da Talbot

24 Horas de Le Mans 1950
Juan Manuel Fangio, argentino que seria o primeiro pentacampeão da Fórmula 1, fez sua primeira participação em Le Mans. O pentacampeão é outro que, infelizmente, não conseguiu repetir em outros certames as inúmeras vitórias da Fórmula 1. Nas 500 Milhas de Indianápolis, por exemplo, Juan Manuel Fangio chegou a se qualificar para uma corrida, mas desistiu antes da largada por saber que não seria competitivo. Em Le Mans, a história foi um pouco menos desgostosa. Mas quase que terminou de forma trágica. Fangio se inscreveu para todas as edições das 24 Horas de Le Mans entre 1950 e 1957 – curiosamente os anos de seu auge na Fórmula 1. Infelizmente, Juan Manoel Fangio nunca conseguiu chegar ao fim dessa corrida.
Primeira participação de carros com motor diesel, por meio de um Deletrez, que para com problemas no motor, e um M.A.P. que abandona a prova com vazamento de água. A edição também marca a estréia da Jaguar e da Cadillac. A fábrica inglesa participa com três carros Jaguar Tipo XK-120S, que obtém o 12º e 15º lugares, já o terceiro carro abandona. Os americanos da Cadillac obtêm o 10º e o 11º lugares com um Coupé de Ville quase standard, e um modelo spyder, de desenho tão feio que foi apelidado de “O Monstro”. Suas linhas foram construídas segundo princípios aerodinâmicos trazidos pelos engenheiros da “Gruman Aircraft”, empresa de construção de aviões.
Louis Rosier e Jean Louis Rosier vencem a corrida com um carro Talbot, esta seria a única vitória da marca. Durante muitos anos, divulgou-se que Louis Rosier, o pai, tinha dirigido por 23 horas seguidas, e seu filho, Jean Louis, somente completara o restante das 24 horas. Não foi isto que aconteceu segundo o próprio Jean Louis, em depoimento recente ele revelou que os dois dirigiram igualmente o bólido, mas devido a semelhança de nome, o locutor da prova se confundiu, anunciando sempre o nome do pai como o piloto em ação. Esta foi a primeira e única vez em que pai e filho vencem.
60 carros participaram de prova, obtendo-se um recorde que foi igualado em 1951, 1953 e 1955, onde os mesmo números de automóveis correram.
Neste ano é criado pela FIA o Campeonato Mundial de Pilotos (atual Fórmula 1). No primeiro campeonato quatro vencedores de Le Mans participam: Louis Rosier, Raymond Sommer, Philippe Etancelim e Eugene Chaboud. Ao final da temporada, os melhores classificados entre eles foram: Rosier, 4º colocado; Sommer, 14º; Etancelim, 18º; e Chaboud 20º.
Morre aos 44 anos, Raymond Sommer, que com Alfa Romeu venceu em Le Mans em 1932 e 1933. Sommer ainda competia, e morreu durante uma corrida em Cadours, França.

Classificação Geral
1 S 5.0 5 Louis Rosier/Jean-Louis Rosier - Talbot-Lago T26 GS - 256 voltas
2 S 5.0 7 Pierre Meyrat/Guy Mairesse - Talbot-Lago Monoplace Decalee - 255 voltas
3 S 8.0 4 Sydney Allard/Tom Cole Jr. - Allard J2 - 251 voltas
4 S 5.0 14 Tony Rolt/Duncan Hamilton - Nash-Healey E - 250 voltas
5 S 3.0 19 George Abecassis/Lance Macklin - Aston Martin DB2 - 249 voltas
6 S 3.0 21 Charles Brackenbury/Reg Parnell - Aston Martin DB2 - 244 voltas
7 S 3.0 18 Henri Louveau/Jean Estager - Delage D6-3L - 241 voltas
8 S 5.0 11 E.R. Hall/Tom Clarke - Bentley Corniche TT - 236 voltas
9 S 2.0 30 "Donald" Mathieson/Richard Stoop - Frazer Nash Milla Miglia - 235 voltas
10 S 8.0 3 Miles Collier/Sam Collier - Cadillac Coupe de Ville "Clumsy Pup" - 233 voltas

1949 – Cavalinho Rampante estréia com Vitória

24 Horas de Le Mans 1949
Não houve corrida durante dez anos em função da Segunda Guerra Mundial. Mas o período de 1940 a 1948 teve vários acontecimentos marcantes em relação a Le Mans, por exemplo: o circuito não ficou abandonado e foi usado como pista de pouso pelos Aliados e Alemães.
Ainda nesta fase, aconteceram quatro falecimentos relacionados aos vencedores das 24 horas. Robert Benoist, francês que venceu em Le Mans em 1937 com Bugatti. Ele era membro da resistência quando foi capturado pelos alemães, sendo transferido para o campo de concentração de Buchenwald, onde morreu em setembro de 1944. Louis Fontes faleceu em combate, quando servia na RAF (Força Aérea Inglesa). Venceu em Le Mans no ano de 1935 num Lagonda, em dupla com John Hindmarsh. Jean Tremoulet, francês que saiu vitorioso das 24 Horas de Le Mans em 1938. Morreu em acidente de motocicleta durante a 2ª Guerra, quando trabalhava para a resistência. Woolf “Babe” Barnato em 1948, após o fim da guerra, em conseqüência de uma cirurgia. Com carros da marca Bentley, foi tricampeão de Le Mans quando venceu as edições de 1928, 1929 e 1930.
Na prova de 1949 houve a primeira participação do Renault 4CV, um clássico da indústria automobilística. Apesar de não ser um carro esporte, participou com algum brilho até 1954, desaparecendo em seguida. Sua melhor classificação foi um décimo quinto lugar em 1952. Registrou-se também a primeira participação da jovem marca italiana Ferrari; correm dois carros modelo 166MM. Um vence e o outro abandona. O 166MM foi a primeira Ferrari construída em série e tinha motor V12 de 1995cc ( Foi o vencedor de Le Mans com menor cilindrada); a potência era de 140HP à 6.000RPM, possuía três carburadores Weber, câmbio de cinco marchas e peso de 650KG; sua velocidade atingia os 220km/h. A primeira Ferrari a vencer Le Mans era especialmente preparada para os rigores de correr continuamente por 24 horas. Os números dos carros eram iluminados para ajudar aos cronometristas à noite, e um tanque de combustível adicional na frente do banco do passageiro. No entanto, para uma corrida que virava a noite, a única iluminação adicional vinha de um único farol no nariz do carro. O ítalo-americano Luigi Chinetti coube a honra de marcar o nome da Ferrari nos livros de recordes internacionais, vencendo em Le Mans. Foi um feito incrível de Chinetti, acompanhado do aristocrático piloto inglês Lord Selsdon.
Nos arquivos de Le Mans consta que Chinetti ficou ao volante por mais de vinte e três horas, pois Selsdon exagerou no conhaque e não pode dirigir no início da prova, mais uma história que marcaria as lendas de Le Mans. Foi a primeira vitória de um motor de 12 cilindros. Luigi Chinetti tornou-se o distribuidor da Ferrari nos Estados Unidos, construindo seu negócio com a reputação que ele conseguiu em Le Mans. Chinetti foi o primeiro a levar a Ferrari à vitória em Le Mans. No fim da prova todo mundo estava cansado, era uma corrida longa que parecia interminável, os espectadores, as pessoas ao redor dos boxes, inclusive a própria esposa e filho de Chinetti, o co-piloto estava aliviado porque tinha acabado de pilotar, em essência, todos estavam cansados, e empoeirados, havia pedras na estrada, não era certamente uma grande pista, exigia-se muito preparo físico.
Neste mesmo ano morre em Buenos Aires o francês Jean Pierre Wimille, bicampeão das 24 Horas de Le Mans em 1937 e 1939, nas duas ocasiões dirigindo uma Bugatti. Sua morte foi causada por um acidente quando disputava uma prova na capital argentina com um Sinca-Gordini.

Classificação geral
1 S 2.0 22 Lord Selsdon/Luigi Chinetti - Ferrari 166MM - 235 voltas
2 S 3.0 15 Henri Louveau/Juan Jover - Delage D6S-3L - 234 voltas
3 S 2.0 3 Harold John Aldington/Norman Culpan - Frazer Nash High Speed Le Mans - 224 voltas
4 S 3.0 14 Louis Gérard/Francesco Godia - Delage D6S-3L - 212 voltas
5 S 5.0 11 Pierre Meyrat/Robert Brunet - Delahaye 135CS - 210 voltas
6 S 5.0 6 H.S.F. Hay/Tommy Wisdom - Bentley 4¼ Paulin - 210 voltas
7 S 2.0 27 Arthur Jones/Unido Nick Haines - Aston Martin 2-Litre Sports (DB1) - 207 voltas
8 S 1.5 35 Eric Thompson/Jack Fairman - HRG 1500 Lightweight Le Mans - 202 voltas
9 S 5.0 12 René Bouchard/Pierre Larrue - Delahaye 135MS - ? voltas
10 S 5.0 9 Henry Leblanc/Jean Brault - Delahaye 135CS - ? voltas