Juan Manoel Fangio correu 4 vezes em Le Mans (50, 51, 53 e 55). O argentino não conseguiu terminar nenhuma das provas. Nesta edição, ele vai presenciar o pavoroso acidente que rendeu à sua equipe, a Mercedes, o abandono do automobilismo por muitas décadas.
Em 11 de junho de 1955, a prova prometia ser um evento extraordinário. Todas as grandes marcas e os melhores pilotos do momento estariam presentes: Entre as marcas destacavam-se a Mercedes, a Jaguar, a Ferrari, a Maserati, além da Aston Martin, todos carros muito velozes, e os de menores cilindradas, como o Bristol e a Porsche. Do lado dos pilotos estavam Juan Manuel Fangio, Stirling Moss, Mike Hawthorn, Eugênio Castellotti, Ivor Bueb, Luigi Musso, Peter Collins, Paul Frère, Tony Rolt, Duncan Hamilton, Jacques Swaters, Willy Claes, Humberto Maglioli.
Faz um tempo bom quando às 16 horas em ponto é dado o sinal de partida. Os corredores, alinhados do lado oposto dos carros, correm, sentam-se nos veículos, ligam os motores e arrancam. Em todo caso, as equipes mais velozes que tomam à dianteira. No início da prova, Castellotti com a Ferrari tem uma formidável saída e toma a ponta, Fangio com Mercedes falha e cai para sexto lugar. Com o carro bem ajustado para o começo de prova, Castellotti imprime um ritmo fortíssimo e se mantém na liderança ao término da primeira hora, seguido de Hawthorn com Jaguar e Fangio com a Mercedes.
Fangio ataca Hawthorn que aumenta o ritmo, o que permite alcançar a Ferrari líder, Castellotti é superado por Fangio e Hawthorn. Se estabelece uma briga cerradíssima pela liderança entre a Jaguar e a Mercedes, cada qual batendo o recorde da pista, Fangio estabelecia novo recorde, logo na volta seguinte respondido por Hawthorn com registro mais veloz.
O carro da Mercedes se mostra mais rápido na grande reta e supera a Jaguar na volta 24, o trunfo da Jaguar está nas partes sinuosas. Cumprida a segunda hora com Fangio à frente, seguido por Hawthorn e Castellotti, este vai perdendo terreno progressivamente. A Mercedes de Fangio permanece na liderança até a volta 29 quando Hawthorn lança um novo ataque e recupera o primeiro posto. Pouco depois se produz à mais terrível catástrofe da história do automobilismo desportivo: a uns cem metros das tribunas principais, um Austin-Healey pilotado por Lance Macklin precede a Jaguar de Hawthorn, que é seguida pela Mercedes de Pierre Levegh com uma volta a menos e pela Mercedes de Fangio na mesma volta do líder. Hawthorn está em uma luta acirrada com Fangio pela liderança e deve entrar nos boxes para reabastecer. Querendo perder o menor tempo possível, Hawthorn passa Macklin, muito mais lento, e manobra para a direita freando para ir aos boxes. Macklin, sem dúvida perturbado por essa manobra, freia bruscamente seu veículo e vira a esquerda no momento em que Levegh está a ponto de ultrapassá-lo. A roda dianteira direita da Mercedes toca na roda traseira esquerda da Austin-Healey provocando um efeito trampolim. O carro prateado sai literalmente voando, se precipitando contra as barreiras de proteção e finalmente se detém sobre um pequeno muro que separa a o circuito do público, mas toda a parte dianteira do veículo se desprende e vai em direção à arquibancada, causando muitas mortes entre os espectadores.
Sem controle, o Austin-Healey bate contra os boxes causando algumas vítimas e logo se chocando com as barreiras ao lado das tribunas. Fangio, que seguia Levegh, passa por todo esse inferno não se sabe como, seu carro está levemente avariado e tem um farol quebrado. O desventurado Pierre Levegh, que o verdadeiro nome era Pierre Bouillon, morre instantaneamente. Saldo da tragédia: 84 mortos e uma centena de feridos.
Charles Faroux, diretor da prova, decide deixar que a corrida prossiga para evitar o pânico e facilitar o socorro ás vítimas. Reina um grande desconcerto entre os espectadores e os participantes. Hawthorn e Kling prolongam sua parada nos boxes e Fangio, não se dando conta da magnitude da tragédia, prossegue em sua volta adquirindo uma certa vantagem. Quando finalmente se detém para passar o volante a Moss, fica sabendo da terrível notícia que o emociona profundamente. Se cumpre a terceira hora com a Mercedes claramente na liderança. Durante a quarta hora a novidade mais importante é a ação dos bombeiros e o abandono de Castellotti-Marzotto com quebra de motor. Perdiza-Mieres se retiram na sexta hora com avaria na transmissão de seu Maserati, enquanto Maglioli-Phil Hill tem atrasos com problemas mecânicos na Ferrari. Fangio-Moss tem enorme vantagem sobre Hawthorn-Bueb quando se cumpre um quarto de prova.
Já está terminada a nona hora de corrida quando Alfred Neubauer, chefe da equipe Mercedes, consegue em fim contatar por telefone com os dirigentes da fábrica, sabendo da notícia ordenam a Neubauer a retirar da prova todos os carros da marca que permaneciam na competição. Assim é cumprida a ordem e Fangio-Moss tem que parar quando estão com uma enorme vantagem sobre o segundo colocado. Por tanto, ao término da décima hora, são Hawthorn e Bueb que lideram a prova com três voltas de vantagem sobre Rolt-Hamilton com outra Jaguar e cinco sobre Musso-Valenzano com Ferrari, que ocupam o terceiro posto. Frankenberg-Polensky estão fazendo uma magnífica corrida entre os carros de pequena cilindrada e ocupam a primeira posição. Salvadori-Wlakers abandonam com seu Aston Martin na Décima primeira hora, o mesmo acontecendo com Beauman-Dewis com Jaguar.
O Jaguar de Rolt-Hamilton começa a dar sinal de desgaste e perde algumas posições, estamos na metade da corrida. Nas horas seguintes registram-se os abandonos do Gordini de Pollet-Da Silva Ramos na 14ª hora, o Jaguar de Rolt-Hamilton na 16ª, e também o Cunningham-Offenhauser de Cunningham-Jonhston na 19ª. Uma última luta ainda se trava na disputa pela segunda posição entre a Maserati de Musso-Valenzano e a Aston Martin de Collins-Frère. Quando nas últimas horas começa a chover, aparece o talento de Frère, consumado mestre sobre piso molhado, mas é a mecânica que decide a peleja quando a Maserati rompe o cambio e é obrigada a parar. Com uma atmosfera lúgubre acentuada pelo clima chuvoso a corrida mais trágica de todos os tempos chega ao fim. A Jaguar pilotada por Mike Hawthorn e Ivor Bueb havia batido todos os recordes. Foi a primeira vitória do Jaguar Tipo D “Nariz Longo” e Hawthorn entra para a história de Le Mans também por ter sido um dos 4 pilotos que conseguiram vencer as 24 Horas de Le Mans e o Campeonato Mundial de Fórmula 1 (em 1958).
A Porsche 550 Spyder 1500, que estreara no ano anterior, consegue a 4ª, 5ª e 6ª colocações, sensacional proeza para o carro alemão que disputa uma categoria de carros com baixa cilindrada. A marca alemã é campeã em quatro premiações, Helmut Polensky e Richard Von Frankenberg ganham a Classe 1101cc a 1500cc, a Coupe Bienale 54-55 e o Índice de Desempenho, enquanto Zora Arkus Duntov e Auguste Veulliet vencem na Classe 751cc a 1100cc.
No mesmo ano, morre em Monza, quando testava uma Ferrari Esporte para a próxima Mille Miglia, o italiano bicampeão do mundo de Fórmula 1 Alberto Ascari. O piloto tinha 37 anos, a mesma idade do pai quando morreu (o também piloto Antonio Ascari), e da mesma forma, pilotando um carro. A curva onde se acidentou foi batizada com o seu nome.
Classificação geral
1 S 5.0 6 Mike Hawthorn/Ivor Bueb - Jaguar D-Type - 307 voltas
2 S 3.0 23 Peter Collins/Paul Frère - Aston Martin DB3S - 302 voltas
3 S 5.0 10 Johnny Claes/Jacques Swaters - Jaguar D-Type - 296 voltas
4 S 1.5 37 Helmut Polensky/Richard von Frankenberg - Porsche 550/4 RS 1500 Spyder - 284 voltas
5 S 1.5 66 Wolfgang Seidel/Olivier Gendebien - Porsche 550/4 RS 1500 Spyder - 276 voltas
6 S 1.5 62 Helm Glöckler/Joroslav Juhan - Porsche 550/4 RS 1500 Spyder - 273 voltas
7 S 2.0 34 Peter S. Wilson/Jim Mayers - Bristol 450C Open - 271 voltas
8 S 2.0 33 Mike Keen/Tommy Line - Bristol 450C Open - 270 voltas
9 S 2.0 32 Tommy Wisdom/Jack Fairman - Bristol 450C Open - 268 voltas
10 S 2.0 35 Marcel Becquart/Richard Stoop - Frazer Nash Sebring - 260 voltas
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